terça-feira, 1 de janeiro de 2013

ESTÁDIO PRÉ-OPERATÓRIO (DOS 2 AOS 7 ANOS) – A CRIANÇA EM IDADE PRÉ- ESCOLAR


            Segundo a teoria do desenvolvimento cognitivo de Jean Piaget, a criança sofre, até à adolescência, mudanças qualitativas no seu pensamento. Estas ocorrem devido à interação de dois fatores: genéticos, sendo os padrões sequenciais de mudança; e ambientais, entendendo-se estes por experiências que impulsionam o desenvolvimento. Esta interação é fundamental para o entendimento de que cada ser é único (sui generis).
            O sujeito é ativo neste crescimento, estando bastante presente o elemento curiosidade, que vai permitir à criança explorar, examinar e manipular o mundo que a rodeia.
            O desenvolvimento cognitivo é específico e normalmente previsível, apresentando períodos críticos, tempo em que a criança necessita de um certo estímulo para que haja um desenvolvimento normal. O ultrapassar destes períodos, origina estruturas intelectuais progressivamente mais complexas, aumentando a capacidade de compreensão dos fenómenos do mundo físico e social e de adaptação ao meio envolvente.
            Piaget conclui que o desenvolvimento da inteligência ocorre por etapas progressivas que exigem processos de adaptação ao meio. Cada novo estádio representa uma forma de equilíbrio cada vez maior, sendo este operado por dois mecanismos fundamentais: a assimilação, que compreende a incorporação dos objetos aos esquemas que a criança já possui; e a acomodação, que corresponde à transformação desses esquemas para uma melhor adaptação. Estes dois mecanismos possibilitam a construção de novos esquemas, denominando-se, num primeiro momento, esquemas de ação, evoluindo, após a interiorização, para esquemas operatórios.
            Uma das conclusões mais importantes a que se chega, após um estudo exaustivo deste período do ciclo de vida do indivíduo, passa pelo facto de se concluir que a infância é fundamental para que, na vida adulta, o indivíduo possua as capacidades básicas intelectuais e de raciocínio, já que é nesta fase que inúmeras competências e qualidades da personalidade são desenvolvidas.
            São quatro os estádios de desenvolvimento intelectual de Piaget: sensório-motor, pré-operatório, das operações concretas e das operações formais. Estádios estes de reorganização, emergência de estratégias e desenvolvimento de competências inteiramente novas, envolvendo uma alteração descontínua na estrutura subjacente.
            Veremos agora o estádio pré-operatório, dos dois aos sete anos, caracterizado pelo início das operações mentais e o aparecimento da função simbólica, assinalando, assim, o início do pensamento.
            A criança apresenta um pensamento centrado na imaginação e relaciona como causa-efeito dois acontecimentos sem qualquer relação (temos o exemplo comum da relação que estabelecem entre a tristeza e a chuva). O egocentrismo, a noção de irreversibilidade, a ausência de conservação, a perceção das formas e das cores e a falta de perspetiva são também características deste estádio, bem como a noção reduzida do futuro a longo prazo.
            Nesta fase, a criança começam a conseguir explicar a doença (o que acontece e porque acontece), sabendo que a cura advém dos xaropes e a prevenção virá da eliminação dos micróbios que existem nas mãos, lavando-as antes de comer e ao longo do dia.
            Neste estádio, sobressaem dois fenómenos:
Função simbólica, sendo esta entendida como a capacidade de criar e lidar mentalmente com símbolos que substituem os objetos.
Apesar da capacidade que possui de comunicar (aquisição da linguagem), devido ao seu egocentrismo, o diálogo é quase inexistente.
Através do jogo simbólico, a criança torna-se capaz de transformar a realidade, com o objetivo de satisfazer os seus desejos (manipulando, por exemplo, objetos de escrita como se de veículos se tratassem).
A criança passa a possuir na sua imagem mental pré-conceitos, apesar de ainda não ser capaz de generalizar (não distingue “todos” de “alguns”).

• Inteligência representativa: corresponde a fase em que a criança atribui sentimentos e intenções a objetos inanimados (animismo, antropomorfismo).
O finalismo é a fase dos “porquês”, uma vez que a criança sente a necessidade de perceber como funciona o mundo, tendo noção de que tudo tem um propósito de existência.
Ocorre também a produção de inferências baseadas em certos conhecimentos que a criança possui e que generaliza (raciocínio analógico).
No raciocínio intuitivo a criança avalia a quantidade pela perceção do espaço ocupado, sem se deter na análise das relações entre os objetos. O seu pensamento está submetido às informações percetivas e intuitivamente captadas.

            Neste período a criança desenvolve o pensamento, e é capaz de proceder ao planeamento mental antes de executar a ação. A função representativa reveste-se de grande importância. Um objeto representa o outro, e com isto a imaginação da criança sofre um grande impulso (ex.: uma simples caixa de sapatos pode ora se tornar um carro, ora um potente cavalo que viu na televisão). Inicia-se e atinge pleno desenvolvimento o chamado jogo simbólico ou “faz de conta”. Neste tipo de atividade, a criança dá significados pessoais a objetos e a brincadeiras que realiza. Observa o que acontece à sua volta, em sua casa, na rua, e reproduz posteriormente nas suas brincadeiras, apresentando, inclusive, sentimentos e emoções frente ao facto. (por exemplo: a criança brinca com a boneca, vestindo-a, dando de comer ou até dando-lhe umas palmadinhas.) É interessante observar como ela brinca, pois as suas emoções, sentimentos e compreensão da realidade são expressos neste momento.
            Na brincadeira do “faz de conta”, a criança modifica a realidade em função dos seus desejos; lembra-se de experiências do passado e explorar o que imagina que vai acontecer depois. O pensamento, no estádio pré-operacional, tem algumas características básicas, que serão enumeradas a seguir:
Pensamento transdutivo (dos 2 aos 4 anos): É centrado na imaginação, onde criança liga dois factos que não mantêm relação entre si (a não ser temporal ou espacial) - causalidade mágica fenomenológica. “Porque Deus fez com que isto seja assim, inventou a doença.” (Influencia a explicação do que pode causar uma doença).
Já a cura da doença é mágica e imediata “O algodão com a água oxigenada faz parar o sangue.” (Influencia a explicação de como se pode tratar de uma doença).
O raciocínio transdutivo está ligado ao egocentrismo, onde a criança sente que os factos da natureza estão ligados, ou são influenciados, por sua vontade.
• Egocentrismo: O seu ponto de vista é o único possível, porque não tem a noção que as outras pessoas podem ter outras perspectivas “Eu pensei mal do meu irmão. O meu irmão ficou doente. Logo, eu fiz o meu irmão ficar doente.” (Comportamentos do próprio como causa dos acontecimentos).
O egocentrismo estende-se aos objectos e outros seres vivos, aos quais a criança atribui intenções, pensamentos, emoções e comportamentos próprios do ser humano – animismo.
• Pensamento Intuitivo (dos 4 aos 7 anos): É centrado nas perceções dos dados sensoriais. Em que a criança responde em raciocínios circulares - Justificações Tautológicas - “Estou doente porque tenho que ficar na cama, estou na cama porque estou doente – Porque espirraste? – Porque estava doente. – Porque estavas doente?- Porque espirrei.” (Influencia a explicação do que pode causar uma doença).
A doença é atribuída a qualquer fenómeno concreto e externo (condições atmosféricas ou a pessoas) que coincida com o início do sintoma, num intervalo temporal ou espacial próximo ou devido à negligência da criança.
A criança vê a dor como uma causa única, visível - Fenomenismo (Influencia a vivência da dor); Como um fenómeno puramente físico e aversivo. A criança verbaliza medo, dor e desconforto. Deturpação da experiencia dolorosa, criando expectativas muito exageradas do perigo e do sofrimento associados ao procedimento.
Estar doente é algo concreto e pontual, sendo que a criança aceita mais facilmente métodos concretos e que tenham um efeito (aparente) de alívio imediato da dor (Fenomenismo).
• Centração: a criança, para dar resposta a um problema, considera só um aspecto de cada vez.
• Irreversibilidade do pensamento: a criança não consegue reverter às operações que realizou ao início para comprovar o seu raciocínio.
• Animismo: a criança atribui sentimentos humanos a objetos à sua volta.
Ao observar a chuva, comenta: "está a chover, porque as nuvens estão tristes". Portanto, o seu pensamento não tem um caráter lógico e são baseados em vivências pessoais, desejos e temores, adquirindo características muito peculiares.
Há um grande desenvolvimento da fala, as palavras organizam-se em frases e a linguagem passa, juntamente com a ação, a ser uma possibilidade da criança expressar as suas ideias e emoções.
Pensamento mágico: a realidade é aquilo que a criança sonha e deseja, e dá explicações com base na sua imaginação, sem ter em consideração questões de lógica.
Interessa-se essencialmente por resultados práticos.
A sua perceção imediata é encarada como verdade absoluta, sem perceber que podem existir outros pontos de vista. Privilegia as suas perceções subjetivas, desprezando as relações objetivas. Não percebe a diferença entre mudanças reais e aparentes e, portanto, responde com base na aparência, acreditando que é o real. (Ex.: são apresentados à criança dois corpos iguais com a mesma quantidade de água. À sua frente, verte-se a água de um copo deles para um copo, alto e fino. A criança afirma que agora este copo alto e fino tem mais água que o outro. Não compreende que a quantidade de água permanece a mesma, independentemente do recipiente em que é colocada. Ou seja, responde com base na aparência. Como o segundo copo parece maior, porque é mais alto, a criança pensa que tem mais água).
Pensamento pré-operatório - a criança não consegue efetuar operações mentais. No exemplo acima, não percebeu que, durante a passagem da água do primeiro copo de água para o segundo (alto e fino), houve algo que não mudou: a quantidade de água permaneceu sempre a mesma. Também não tem consciência de que as transformações na aparência da água são reversíveis (pode logo a seguir deitar a água do copo alto e fino para o copo mais baixo).

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