segunda-feira, 21 de janeiro de 2013

Reformas da saúde


         A reforma de 1952
      Nesta data é reformulado o Curso de Enfermagem Geral, passando a ter duração de três anos.
      O curso de auxiliares de enfermagem é mantido e é ainda criado o Curso de Auxiliares de Enfermagem
      Especializada (que não chegou a ser leccionado na Escola de Enfermagem Artur Ravara);
     É criado o Curso de Enfermagem Complementar com a duração de um ano, destinado aos enfermeiros que exercessem as funções de chefia e aos monitores das escolas de Enfermagem. Houve modificações nas técnicas de enfermagem, na realização de estudos de caso e relatórios, e na elaboração de trabalhos sobre terapêutica e alimentação. Emerge uma preocupação com o ensino não apenas centrado no diagnóstico médico.

A reforma de 1965
    Os exames finais foram abolidos no inicio da década de 1970 devido ao facto de a reforma de 1965 já incluir o exame final de cada disciplina.

A reforma de 1976
     O curso de enfermagem geral e o curso de auxiliar de enfermagem fundiram-se num só.
     Este curso estava dividido por áreas de aprendizagem.
     A grande inovação consistia em dar maior ênfase à saúde e às ciências humanas. De salientar é o facto de este novo plano de estudos se centralizar no desenvolvimento individual do aluno.
Segundo este novo modelo o aluno deveria ser capaz de:
  • Prestar cuidados de enfermagem a indivíduos, famílias e comunidade, a nível de prevenção
  • Colaborar com outros técnicos de saúde
  • Contribuir para o desenvolvimento da enfermagem
  • Desenvolver uma consciência profissional
Nesta altura era exigido ao aluno candidato apenas o 11.º ano de escolaridade, no entanto havia preferência dos candidatos que possuíam o 12.º ano de escolaridade (na prática, só eram admitidos os candidatos com o 12.º ano).

Escola de Enfermagem Artur Ravara

  1. O nascimento da Escola (9-12-1885)
O médico Tomás de Carvalho, no exercício do seu cargo de enfermeiro-mor no Hospital Real de São José, propõe ao Governo a criação de um curso destinado a ministrar o ensino profissional aos empregados das enfermarias. Esta proposta de Tomás de Carvalho foi promulgada por D.Luís I, na Portaria do Reino de 28 de Janeiro de 1886, autorizando o funcionamento de um curso prático para enfermeiros. Assim, em 1887, com esta autorização régia dá-se início à criação do primeiro curso para a formação de enfermeiros no Hospital de São José, como era então desejado, e lançam-se os alicerces desta Escola.
O primeiro curso de enfermagem abriu a 26 de Janeiro de 1887, regido por Artur Ravara, segundo orientações dadas pela Administração do Hospital de São José. Foi então permitido a qualquer pessoa que não pertencesse ao quadro dos empregados do Hospital, inscrever-se como aluno do Curso de Enfermeiros e obter o certificado passado pelo professor após aprovação do exame de fim do ano lectivo. Porém, o curso de Enfermeiros não obteve os resultados pretendidos, tendo sido este encerrado em Novembro de 1889, sendo suprimido durante 12 anos devido ao baixo rendimento dos alunos.

2. Escola Profissional de Enfermagem

Passados cerca de oito anos após a implantação da republica (1918), os governantes procedem a reorganização da Escola Profissional de Enfermeiros, a qual passa a ser designada por Escola Profissional de Enfermagem, que passou a ter um curso geral com duração de dois anos.
Este diploma vem tentar dar resposta as dificuldades sentidas na formação especifica em enfermagem com a aplicação dos anteriores planos de estudo, dando agora maior ênfase:
- Habilitações literárias para o ingresso, coma exigência de certidão de exame de instrução primária do 2ºgrau.
- Idade (certidão de idade, não podendo ter menos de 17 anos e mais de 25 anos)
- Bom comportamento moral e civil.
- Previa aprovação dos candidatos em junta médica.

A esses mesmos praticantes, com bom comportamento e aptidões comprovadas para o serviço hospitalar, seria garantido o lugar após a conclusão do curso geral.
As condições de admissão a esta avaliação final eram as seguintes:
  • Assiduidade
  • Nota superior a 10 valores
  • Provas dadas nos estágios
  • Qualidades reveladas e indispensáveis à profissão de enfermagem. 
3. O curso complementar

Com a duração de um ano, habilitava para os lugares de chefia dos hospitais e para o ingresso era necessário o certificado de aprovação no Curso Geral.
Segundo o diploma de criação da Escola Profissional de Enfermagem, no fim de cada um daqueles cursos, o aluno que fosse aprovado tinha direito a um diploma passado pela secretaria e assinado pelo director.

4. Criação da Escola de enfermagem Artur Ravara

Em 1930 a instituição é reorganizada passando a ser denominada Escola de Enfermagem de Artur Ravara em honra do professor, que em 1887, foi encarregado de reger o primeiro curso.
Nesta altura há uma aproximação maior ao ideal de Florence Nighthingale: “uma boa enfermeira deve ser uma pessoa com quem, se possa contar, uma mulher de sentimentos delicados e recatados, observadora sagaz e discreta, sóbria e honesta, religiosa e devota, enfim, alguém que respeita sua própria vocação porque a vida, a mais preciosa dádiva de Deus, é posta em suas mãos” (Nightingale, 1989, p.6)
Em 1933, o Instituto de Orientação Profissional examinou todos alunos do 1º ano de enfermagem. Neste exame (a 46 mulheres e 29 homens), apenas uma aluna apresentou os requisitos exigidos a uma boa enfermeira e acabou o curso, mais tarde com 20 valores.
Em 1938 é inaugurado o edifício da escola, no espaço do Hospital de Santo António dos Capuchos;
A 31 de Dezembro de 1942, são criadas as especialidades de enfermeiras visitadoras, puericultoras e psiquiatras, entre outras.
Em 1947 o ensino passou a ser orientado e centralizado pelo estado, funcionando até aqui como serviço dos hospitais; e são feitos os primeiros registos da terapêutica administrada na prática de enfermagem.
É definido que o ensino de enfermagem deve ser orientado no sentido da preferência do pessoal feminino, preconiza-se o regime de internato para a formação das alunas.
A 10 de Abril de 1947, na escola de enfermagem Artur Ravara, foram criados dois novos cursos de enfermagem: o curso de pré-enfermagem(com duração de 2 anos) e o curso de auxiliar de enfermagem (com duração de 1 ano) que começaram a funcionar no ano lectivo de 1947/1948.

terça-feira, 15 de janeiro de 2013

Os cuidados de enfermagem na Baixa Idade Média


Outrora, a rigorosa disciplina de enfermagem não era praticada por profissionais de saúde, mas sim por ordens religiosas ou entidades que aliavam o amor ao trabalho, dom de Deus ao culto de outras virtudes.
Podemos começar a falar dos frades beneditinos, seguidores de S. Bento, praticavam uma cultura humanística, contribuindo para dar continuidade entre o mundo antigo e o mundo moderno, ou seja, guardavam e copiavam os manuscritos raros que iriam revelar-se à luz do período do renascimento, desta maneira os frades beneditinos eram instruídos por obras literárias clássicas.
Era nos conventos que se mantinha o grau de cultura, apreciável numa época de feudalismo arrogante, onde por muito tempo existiu o estudo da medicina, graças às obras clássicas que guardavam. Assim, os doentes aproximavam-se dos mosteiros, onde os eclesiásticos (frades ou monges) os aguardavam para um carinhoso acolhimento nas “enfermarias”, que se vieram mais tarde a transformar em hospitais.
Para além dos beneditinos, a humanidade terá de reconhecer os benefícios das ordens consideradas menores, como é o caso da modesta ordem de Francisco de Assis, a bem dos leprosos, que iniciou a primeira campanha para a melhoria das suas condições sociais, através de medidas preventivas de sanidade. Os devotos da ordem de Santo Espírito, de Montpellier, tratavam para além dos doentes, as crianças, os velhos e as parturientes. À também que mencionar Flandres e Florença por pequenos grupos prestadores de cuidados, como os beguinos de Flandres pelas praticas de enfermagem ou pelo tratamento de doentes, ou as oblatas de Florença, prestavam cuidados independentemente de quaisquer ordem monástica.
O desenvolvimento da enfermagem leiga durante os séculos XII e XIII, levada a cabo por estas ordens religiosas, teve o seu fim no ano 1212 por decisões episcopais, pelo critério da mais estrita economia.
Em Portugal à que mencionar a santificada D. Isabel de Aragão, enfermeira e fundadora de hospitais de Coimbra, Leiria e Santarém. Além dessas instituições, D. Isabel fez jus à sua generosidade, doando fundos aos Hospitais de Mínimos de Lisboa e Santarém e ao Hospital de Ronces Valhes no reino de Aragão.
Com o problema dos leprosos a aumentar de volume, atingindo todas as classes sociais, gera-se uma enorme preocupação surgindo assim novos hospitais para proporcionar conforto e guarida. Nesses novos hospitais dedicavam-se ao bem do próximo, rainhas, infantas, senhoras e todos os crentes da fé, que desejavam conseguir a beatificação ou a santidade, depois de renunciarem aos prazeres mundanos, assistindo assim aos pobres, aos doentes e aos peregrinos.
O cuidar regia-se pelas normas e valores cristãos, tal como o amor, dignidade, respeito pela pessoa física e espiritual. Pois nesta altura a religião estava na base de qualquer comportamento e atitudes. A manutenção ou recuperação da saúde era feita através de um equilíbrio espiritual e material.
            Numa época de pouco valor técnico, salienta-se o ponto de vista moral, como grande exemplo de bondade e desinteresse, surgindo assim o autêntico e puro altruísmo.
            Temos como prova do pouco valor técnico da época, as sangrias executados pelos barbeiros, pensando-se ser cura para a peste; o parto era executado com a parturiente sentada num banco auxiliada normalmente por mulheres sem conhecimentos para tal; a algaliação era muito rudimentar sem qualquer tipo de assepsia; e os doentes eram acamados uns com os outros sem qualquer tipo de separação.
            Deram-se também os primeiros passos para um sistema de assistência pública, levada a cabo por Luís IX de França, mas esta caiu por terra devido aos custos de manutenção e da malícia dos administradores, focados apenas no próprio proveito esquecendo os cuidados devidos aos doentes. A guerra dos Cem anos contribui para agravar a situação financeira de França, levando ao colapso do sistema.
Havia ainda outro tipo de cuidadores que eram as beguinas (raparigas arrancadas à má vida mas que não podiam ser monjas) que se ocupavam também dos cuidados dos enfermos.
A grande necessidade de pessoas cuidadores de saúde para cuidar dos doentes e dos feridos durante as cruzadas fez com que surgissem as unidades dos cavaleiros hospitalares que só atendiam os doentes durante os intervalos da guerra. Grandes quantidades dos homens fizeram-se “enfermeiros”. O ideal militar de ordem e disciplina manifestava-se, havia também mulheres que se organizavam nas unidades auxiliares de algumas ordens. Os cavaleiros hospitalares e os cavaleiros de Teutónico foram ordens de mulheres que estavam subordinadas aos cavaleiros Templários e cavaleiros da cruz vermelha.
Dois exemplos de ordens criadas foram os Ordens de “los caballeros de San Lazaro” e Ordem de “los caballeros hospitalarios Templários”, criadas durante as cruzadas, dos quais os monges que praticavam cuidados de saúde nas ordens se tornaram os mais famosos.
Também durante as cruzadas, milhares de peregrinos caminhavam para Jerusalém, as ordens cuidavam dos feridos da guerra e os peregrinos eram cuidados em mosteiros por monges e monjas, que se vieram a chamar, Hospital de São João de Jerusalém e Hospital de Santa Maria Madalena, sendo impostos nestes hospitais regras militares. Os monges e monjas que prestavam cuidados seguiam as regras de San Agustin, isto é prestar assistência e atenção de modo igual para todos, não fazendo distinção entre amigos e inimigos.
Assim, com este trabalho concluímos que os progressos dos cuidados de enfermagem esteve ligado, durante muito tempo, a ordens religiosas ou entidades preocupadas com o bem-estar do próximo. Numa época marcada pelos conflitos de guerra e pelo pelejar da espada entre nações e religiões.
Descobrimos também que os factores que propulsionaram as intervenções do enfermeiro na prestação de cuidados, foram as guerras, com os seus inúmeros feridos e as doenças infecciosas da época (lepra e peste negra).
É correcto concluir que o saber dos cuidados de saúde é ancestral, caminhando de geração em geração, acumulando conhecimento ao longo da sua existência.


terça-feira, 1 de janeiro de 2013

ESTÁDIO PRÉ-OPERATÓRIO (DOS 2 AOS 7 ANOS) – A CRIANÇA EM IDADE PRÉ- ESCOLAR


            Segundo a teoria do desenvolvimento cognitivo de Jean Piaget, a criança sofre, até à adolescência, mudanças qualitativas no seu pensamento. Estas ocorrem devido à interação de dois fatores: genéticos, sendo os padrões sequenciais de mudança; e ambientais, entendendo-se estes por experiências que impulsionam o desenvolvimento. Esta interação é fundamental para o entendimento de que cada ser é único (sui generis).
            O sujeito é ativo neste crescimento, estando bastante presente o elemento curiosidade, que vai permitir à criança explorar, examinar e manipular o mundo que a rodeia.
            O desenvolvimento cognitivo é específico e normalmente previsível, apresentando períodos críticos, tempo em que a criança necessita de um certo estímulo para que haja um desenvolvimento normal. O ultrapassar destes períodos, origina estruturas intelectuais progressivamente mais complexas, aumentando a capacidade de compreensão dos fenómenos do mundo físico e social e de adaptação ao meio envolvente.
            Piaget conclui que o desenvolvimento da inteligência ocorre por etapas progressivas que exigem processos de adaptação ao meio. Cada novo estádio representa uma forma de equilíbrio cada vez maior, sendo este operado por dois mecanismos fundamentais: a assimilação, que compreende a incorporação dos objetos aos esquemas que a criança já possui; e a acomodação, que corresponde à transformação desses esquemas para uma melhor adaptação. Estes dois mecanismos possibilitam a construção de novos esquemas, denominando-se, num primeiro momento, esquemas de ação, evoluindo, após a interiorização, para esquemas operatórios.
            Uma das conclusões mais importantes a que se chega, após um estudo exaustivo deste período do ciclo de vida do indivíduo, passa pelo facto de se concluir que a infância é fundamental para que, na vida adulta, o indivíduo possua as capacidades básicas intelectuais e de raciocínio, já que é nesta fase que inúmeras competências e qualidades da personalidade são desenvolvidas.
            São quatro os estádios de desenvolvimento intelectual de Piaget: sensório-motor, pré-operatório, das operações concretas e das operações formais. Estádios estes de reorganização, emergência de estratégias e desenvolvimento de competências inteiramente novas, envolvendo uma alteração descontínua na estrutura subjacente.
            Veremos agora o estádio pré-operatório, dos dois aos sete anos, caracterizado pelo início das operações mentais e o aparecimento da função simbólica, assinalando, assim, o início do pensamento.
            A criança apresenta um pensamento centrado na imaginação e relaciona como causa-efeito dois acontecimentos sem qualquer relação (temos o exemplo comum da relação que estabelecem entre a tristeza e a chuva). O egocentrismo, a noção de irreversibilidade, a ausência de conservação, a perceção das formas e das cores e a falta de perspetiva são também características deste estádio, bem como a noção reduzida do futuro a longo prazo.
            Nesta fase, a criança começam a conseguir explicar a doença (o que acontece e porque acontece), sabendo que a cura advém dos xaropes e a prevenção virá da eliminação dos micróbios que existem nas mãos, lavando-as antes de comer e ao longo do dia.
            Neste estádio, sobressaem dois fenómenos:
Função simbólica, sendo esta entendida como a capacidade de criar e lidar mentalmente com símbolos que substituem os objetos.
Apesar da capacidade que possui de comunicar (aquisição da linguagem), devido ao seu egocentrismo, o diálogo é quase inexistente.
Através do jogo simbólico, a criança torna-se capaz de transformar a realidade, com o objetivo de satisfazer os seus desejos (manipulando, por exemplo, objetos de escrita como se de veículos se tratassem).
A criança passa a possuir na sua imagem mental pré-conceitos, apesar de ainda não ser capaz de generalizar (não distingue “todos” de “alguns”).

• Inteligência representativa: corresponde a fase em que a criança atribui sentimentos e intenções a objetos inanimados (animismo, antropomorfismo).
O finalismo é a fase dos “porquês”, uma vez que a criança sente a necessidade de perceber como funciona o mundo, tendo noção de que tudo tem um propósito de existência.
Ocorre também a produção de inferências baseadas em certos conhecimentos que a criança possui e que generaliza (raciocínio analógico).
No raciocínio intuitivo a criança avalia a quantidade pela perceção do espaço ocupado, sem se deter na análise das relações entre os objetos. O seu pensamento está submetido às informações percetivas e intuitivamente captadas.

            Neste período a criança desenvolve o pensamento, e é capaz de proceder ao planeamento mental antes de executar a ação. A função representativa reveste-se de grande importância. Um objeto representa o outro, e com isto a imaginação da criança sofre um grande impulso (ex.: uma simples caixa de sapatos pode ora se tornar um carro, ora um potente cavalo que viu na televisão). Inicia-se e atinge pleno desenvolvimento o chamado jogo simbólico ou “faz de conta”. Neste tipo de atividade, a criança dá significados pessoais a objetos e a brincadeiras que realiza. Observa o que acontece à sua volta, em sua casa, na rua, e reproduz posteriormente nas suas brincadeiras, apresentando, inclusive, sentimentos e emoções frente ao facto. (por exemplo: a criança brinca com a boneca, vestindo-a, dando de comer ou até dando-lhe umas palmadinhas.) É interessante observar como ela brinca, pois as suas emoções, sentimentos e compreensão da realidade são expressos neste momento.
            Na brincadeira do “faz de conta”, a criança modifica a realidade em função dos seus desejos; lembra-se de experiências do passado e explorar o que imagina que vai acontecer depois. O pensamento, no estádio pré-operacional, tem algumas características básicas, que serão enumeradas a seguir:
Pensamento transdutivo (dos 2 aos 4 anos): É centrado na imaginação, onde criança liga dois factos que não mantêm relação entre si (a não ser temporal ou espacial) - causalidade mágica fenomenológica. “Porque Deus fez com que isto seja assim, inventou a doença.” (Influencia a explicação do que pode causar uma doença).
Já a cura da doença é mágica e imediata “O algodão com a água oxigenada faz parar o sangue.” (Influencia a explicação de como se pode tratar de uma doença).
O raciocínio transdutivo está ligado ao egocentrismo, onde a criança sente que os factos da natureza estão ligados, ou são influenciados, por sua vontade.
• Egocentrismo: O seu ponto de vista é o único possível, porque não tem a noção que as outras pessoas podem ter outras perspectivas “Eu pensei mal do meu irmão. O meu irmão ficou doente. Logo, eu fiz o meu irmão ficar doente.” (Comportamentos do próprio como causa dos acontecimentos).
O egocentrismo estende-se aos objectos e outros seres vivos, aos quais a criança atribui intenções, pensamentos, emoções e comportamentos próprios do ser humano – animismo.
• Pensamento Intuitivo (dos 4 aos 7 anos): É centrado nas perceções dos dados sensoriais. Em que a criança responde em raciocínios circulares - Justificações Tautológicas - “Estou doente porque tenho que ficar na cama, estou na cama porque estou doente – Porque espirraste? – Porque estava doente. – Porque estavas doente?- Porque espirrei.” (Influencia a explicação do que pode causar uma doença).
A doença é atribuída a qualquer fenómeno concreto e externo (condições atmosféricas ou a pessoas) que coincida com o início do sintoma, num intervalo temporal ou espacial próximo ou devido à negligência da criança.
A criança vê a dor como uma causa única, visível - Fenomenismo (Influencia a vivência da dor); Como um fenómeno puramente físico e aversivo. A criança verbaliza medo, dor e desconforto. Deturpação da experiencia dolorosa, criando expectativas muito exageradas do perigo e do sofrimento associados ao procedimento.
Estar doente é algo concreto e pontual, sendo que a criança aceita mais facilmente métodos concretos e que tenham um efeito (aparente) de alívio imediato da dor (Fenomenismo).
• Centração: a criança, para dar resposta a um problema, considera só um aspecto de cada vez.
• Irreversibilidade do pensamento: a criança não consegue reverter às operações que realizou ao início para comprovar o seu raciocínio.
• Animismo: a criança atribui sentimentos humanos a objetos à sua volta.
Ao observar a chuva, comenta: "está a chover, porque as nuvens estão tristes". Portanto, o seu pensamento não tem um caráter lógico e são baseados em vivências pessoais, desejos e temores, adquirindo características muito peculiares.
Há um grande desenvolvimento da fala, as palavras organizam-se em frases e a linguagem passa, juntamente com a ação, a ser uma possibilidade da criança expressar as suas ideias e emoções.
Pensamento mágico: a realidade é aquilo que a criança sonha e deseja, e dá explicações com base na sua imaginação, sem ter em consideração questões de lógica.
Interessa-se essencialmente por resultados práticos.
A sua perceção imediata é encarada como verdade absoluta, sem perceber que podem existir outros pontos de vista. Privilegia as suas perceções subjetivas, desprezando as relações objetivas. Não percebe a diferença entre mudanças reais e aparentes e, portanto, responde com base na aparência, acreditando que é o real. (Ex.: são apresentados à criança dois corpos iguais com a mesma quantidade de água. À sua frente, verte-se a água de um copo deles para um copo, alto e fino. A criança afirma que agora este copo alto e fino tem mais água que o outro. Não compreende que a quantidade de água permanece a mesma, independentemente do recipiente em que é colocada. Ou seja, responde com base na aparência. Como o segundo copo parece maior, porque é mais alto, a criança pensa que tem mais água).
Pensamento pré-operatório - a criança não consegue efetuar operações mentais. No exemplo acima, não percebeu que, durante a passagem da água do primeiro copo de água para o segundo (alto e fino), houve algo que não mudou: a quantidade de água permaneceu sempre a mesma. Também não tem consciência de que as transformações na aparência da água são reversíveis (pode logo a seguir deitar a água do copo alto e fino para o copo mais baixo).