quarta-feira, 17 de agosto de 2016

Colaboração Raio X

Hoje recebi a excelente noticia de que tinha sido publicado um artigo meu na revista Raio X. Trata-se exactamente do artigo que publiquei há dias, acerca da interdependência que me parece existir,cada vez mais, entre a tecnologia e os adolescentes.


Deixo-vos o link e peço-vos que sigam esta revista online, que de tudo faz para publicar artigos de qualidade, que façam chegar a saúde ao cidadão e ao profissional.
Tiro-lhes o chapéu.

Desejo apenas que isto seja o início de uma bonita colaboração, com ganhos para ambas as partes.

http://raiox.pt/a-tecnologia-e-os-adolescentes/

terça-feira, 16 de agosto de 2016

Adolescentes e a Tecnologia

De acordo com o relatório Aventura Social (2015), cerca de 45% dos jovens portugueses refere que, quando tiveram relações sexuais pela primeira vez, queriam que tivesse acontecido naquela altura. Considerando que iniciam a atividade sexual por volta dos 14 anos e que foi reportada uma diminuição do uso de preservativo e um aumento das relações sexuais associadas ao consumo de álcool ou drogas, nos últimos 10 anos, é cada vez mais emergente a necessidade de intervir junto desta comunidade, a nível da prevenção de comportamentos de risco.
A tecnologia, cada vez mais presente nas tarefas diárias, torna-se indispensável na vida dos adolescentes, que adotaram equipamentos eletrónicos como parte integrante da sua vida social. O portal da juventude afirma que as Tecnologias da informação e comunicação (TIC), são formas de expressão na sociedade atual, modernizada. Entende-se por TIC meios de tratamento de informação e auxiliares na comunicação, 
Apesar do seu potencial, no desenvolvimento da sociedade e cultura, sabe-se muito pouco sobre os seus usos em ambientes informais.
            Atualmente, a aprendizagem não está circunscrita à escola. Esta ocorre em locais pedagógicos como bibliotecas, filmes, jornais, revistas, anúncios e videojogos. A vivência em diferentes ambientes sociais, acesso a diferentes fontes de informação e postura perante os pais, confirmam que o conceito adolescência mudou. Hoje em dia os adolescentes trocam, negociam e compartilham informações.
Vergonha ou medo pelo comprometimento da sua confidencialidade, leva a que muitos jovens não esclareçam dúvidas com pais ou professores, procurando informação online ou junto dos pares. É sabido que atribuem grande importância aos meios de comunicação social, dando maior ênfase às mensagens instantâneas (p.ex. Skype) e SMS. Este tipo de contacto tem sido usado entre adolescentes e profissionais de saúde como veículo à exposição e esclarecimento de dúvidas, verificando-se o seu uso, maioritariamente, na necessidade urgente de informação.
Um estudo realizado por Antunes (2012) revelou que a fonte de informação eleita para esclarecimento de dúvidas sobre sexualidade é a internet (61%), seguindo-se o esclarecimento junto dos pares e, por último, junto dos pais.
Os princípios da informação online para jovens têm vindo a ser estudados pela European Youth Information and Counselling Agency (ERYICA), que ajuda a encontrar a informação certa e a tomar decisões informadas, tirando o máximo partido dos benefícios da Internet. Além de plataformas online de partilha de experiências, existe um espaço onde, via Skype, tiram dúvidas com profissionais qualificados.
As TIC surgiram como meio para a criação de um sistema de saúde fiável e confiável, com a informação de qualidade que vem promover a saúde e diminuir a incidência de complicações decorrentes de comportamentos de risco, nesta comunidade jovem.
Ainda durante o meu percurso académico, promovi sessões de educação para a saúde, em escolas secundárias, abordando temáticas envolvendo a sexualidade saudável. O que pude constatar foi que, ao indicar alguns endereços eletrónicos de fontes fidedignas sobre a temática, estes eram efetivamente consultados, e na sessão seguinte traziam questões e comentários sobre o que leram. Pude perceber que, por vezes, a nossa intervenção mais tecnológica pode partir de pequenos aspetos como este, criando plataformas online de esclarecimento de dúvidas e indicando sites com informação útil, para consulta. Aqui despertou o meu interesse pelo tema e foi quando decidi, efetivamente, apostar na pesquisa bibliográfica e na abordagem mais modernista nas minhas sessões de educação para a saúde.
Dessa pesquisa emergiram aspetos muito interessantes de projetos que estão a ser implementados em Portugal.
A APF lançou um jogo que aborda, de forma lúdica e interativa, temáticas como a sexualidade e as competências parentais[1]. Foi concebido no âmbito do Projeto #ON_Sex Direitos Sexuais e Jovens Vulneráveis, pretendendo aumentar conhecimentos, desenvolver competências e promover um estilo de vida saudável.
No estágio final da licenciatura, alterei algumas das normas do gabinete de saúde escolar onde intervim, nomeadamente no atendimento. Ao invés de o enfermeiro estar no gabinete da escola à espera de ser abordado/procurado pelos alunos, propus um sistema em que esse atendimento fosse com recurso às TIC. As alterações foram divulgadas na escola e no site da mesma, com indicação do endereço Skype que deveria ser utilizado para entrar em contacto com a equipa de enfermagem. Foi pedido à chefia um telemóvel de serviço, usado exclusivamente em contexto de saúde escolar, para esclarecimento de dúvidas via SMS ou chamada, deixando a decisão ao critério do adolescente.
Dessa forma, o horário estipulado para atendimento deixou de ser presencial. A enfermeira, a partir da UCC, passou a atender qualquer chamada/videochamada via Skype, durante esse horário. O telemóvel de serviço começou por funcionar apenas nos dias úteis da semana. No entanto, com o decorrer do projeto, verificou-se a necessidade de estender este horário para o fim-de-semana, devido à grande afluência de tentativas de contacto nesse período.
Inúmeros são os autores que poderia citar, que concluíram que as sessões de educação para a saúde, demonstraram melhores resultados quando apresentadas com recurso a TIC e jogos interativos, devido ao caráter lúdico conferido à sessão, em detrimento da convencional apresentação de slides. Os jovens passaram a adotar comportamentos que não punha em risco a sua vida e houve diminuição da incidência de gravidezes na adolescência e IST. O uso da internet traz grande potencial à saúde pública, podendo ser usado para educação, recolha de dados e intervenção junto dos grupos de risco.
Está nas mãos dos profissionais de saúde a competência e ferramentas que permitam acompanhar as mudanças e adaptar as intervenções, para que as TIC sejam integradas com fins pedagógicos e como meio de promoção de uma vivência e desenvolvimento saudável dos adolescentes.




[1] Jogo gratuito online disponível em http://onsex.apf.pt/inicio/