Outrora, a rigorosa disciplina de enfermagem não era
praticada por profissionais de saúde, mas sim por ordens religiosas ou
entidades que aliavam o amor ao trabalho, dom de Deus ao culto de outras
virtudes.
Podemos começar a falar dos frades beneditinos,
seguidores de S. Bento, praticavam uma cultura humanística, contribuindo para
dar continuidade entre o mundo antigo e o mundo moderno, ou seja, guardavam e
copiavam os manuscritos raros que iriam revelar-se à luz do período do
renascimento, desta maneira os frades beneditinos eram instruídos por obras
literárias clássicas.
Era nos conventos que se mantinha o grau de cultura,
apreciável numa época de feudalismo arrogante, onde por muito tempo existiu o
estudo da medicina, graças às obras clássicas que guardavam. Assim, os doentes
aproximavam-se dos mosteiros, onde os eclesiásticos (frades ou monges) os
aguardavam para um carinhoso acolhimento nas “enfermarias”, que se vieram mais
tarde a transformar em hospitais.
Para além dos beneditinos, a humanidade terá de
reconhecer os benefícios das ordens consideradas menores, como é o caso da
modesta ordem de Francisco de Assis, a bem dos leprosos, que iniciou a primeira
campanha para a melhoria das suas condições sociais, através de medidas
preventivas de sanidade. Os devotos da ordem de Santo Espírito, de Montpellier,
tratavam para além dos doentes, as crianças, os velhos e as parturientes. À
também que mencionar Flandres e Florença por pequenos grupos prestadores de
cuidados, como os beguinos de Flandres pelas praticas de enfermagem ou pelo
tratamento de doentes, ou as oblatas de Florença, prestavam cuidados
independentemente de quaisquer ordem monástica.
O desenvolvimento da enfermagem leiga durante os séculos
XII e XIII, levada a cabo por estas ordens religiosas, teve o seu fim no ano
1212 por decisões episcopais, pelo critério da mais estrita economia.
Em Portugal à que mencionar a santificada D. Isabel de
Aragão, enfermeira e fundadora de hospitais de Coimbra, Leiria e Santarém. Além
dessas instituições, D. Isabel fez jus à sua generosidade, doando fundos aos
Hospitais de Mínimos de Lisboa e Santarém e ao Hospital de Ronces Valhes no
reino de Aragão.
Com o problema dos leprosos a aumentar de volume, atingindo
todas as classes sociais, gera-se uma enorme preocupação surgindo assim novos
hospitais para proporcionar conforto e guarida. Nesses novos hospitais
dedicavam-se ao bem do próximo, rainhas, infantas, senhoras e todos os crentes
da fé, que desejavam conseguir a beatificação ou a santidade, depois de
renunciarem aos prazeres mundanos, assistindo assim aos pobres, aos doentes e
aos peregrinos.
O cuidar regia-se pelas normas e valores cristãos, tal
como o amor, dignidade, respeito pela pessoa física e espiritual. Pois nesta
altura a religião estava na base de qualquer comportamento e atitudes. A
manutenção ou recuperação da saúde era feita através de um equilíbrio
espiritual e material.
Numa época de pouco valor técnico,
salienta-se o ponto de vista moral, como grande exemplo de bondade e
desinteresse, surgindo assim o autêntico e puro altruísmo.
Temos como prova do pouco valor
técnico da época, as sangrias executados pelos barbeiros, pensando-se ser cura
para a peste; o parto era executado com a parturiente sentada num banco
auxiliada normalmente por mulheres sem conhecimentos para tal; a algaliação era
muito rudimentar sem qualquer tipo de assepsia; e os doentes eram acamados uns
com os outros sem qualquer tipo de separação.
Deram-se também os primeiros passos
para um sistema de assistência pública, levada a cabo por Luís IX de França,
mas esta caiu por terra devido aos custos de manutenção e da malícia dos
administradores, focados apenas no próprio proveito esquecendo os cuidados
devidos aos doentes. A guerra dos Cem anos contribui para agravar a situação
financeira de França, levando ao colapso do sistema.
Havia ainda outro tipo de cuidadores que eram as beguinas
(raparigas arrancadas à má vida mas que não podiam ser monjas) que se ocupavam
também dos cuidados dos enfermos.
A grande necessidade de pessoas cuidadores de saúde para
cuidar dos doentes e dos feridos durante as cruzadas fez com que surgissem as
unidades dos cavaleiros hospitalares que só atendiam os doentes durante os
intervalos da guerra. Grandes quantidades dos homens fizeram-se “enfermeiros”.
O ideal militar de ordem e disciplina manifestava-se, havia também mulheres que
se organizavam nas unidades auxiliares de algumas ordens. Os cavaleiros
hospitalares e os cavaleiros de Teutónico foram ordens de mulheres que estavam
subordinadas aos cavaleiros Templários e cavaleiros da cruz vermelha.
Dois exemplos de ordens criadas foram os Ordens de “los
caballeros de San Lazaro” e Ordem de “los caballeros hospitalarios Templários”,
criadas durante as cruzadas, dos quais os monges que praticavam cuidados de
saúde nas ordens se tornaram os mais famosos.
Também durante as cruzadas, milhares de peregrinos
caminhavam para Jerusalém, as ordens cuidavam dos feridos da guerra e os
peregrinos eram cuidados em mosteiros por monges e monjas, que se vieram a
chamar, Hospital de São João de Jerusalém e Hospital de Santa Maria Madalena,
sendo impostos nestes hospitais regras militares. Os monges e monjas que
prestavam cuidados seguiam as regras de San Agustin, isto é prestar assistência
e atenção de modo igual para todos, não fazendo distinção entre amigos e
inimigos.
Assim, com este trabalho
concluímos que os progressos dos cuidados de enfermagem esteve ligado, durante
muito tempo, a ordens religiosas ou entidades preocupadas com o bem-estar do
próximo. Numa época marcada pelos conflitos de guerra e pelo pelejar da espada
entre nações e religiões.
Descobrimos também que os
factores que propulsionaram as intervenções do enfermeiro na prestação de
cuidados, foram as guerras, com os seus inúmeros feridos e as doenças
infecciosas da época (lepra e peste negra).
É correcto concluir que o saber
dos cuidados de saúde é ancestral, caminhando de geração em geração, acumulando
conhecimento ao longo da sua existência.
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