terça-feira, 15 de janeiro de 2013

Os cuidados de enfermagem na Baixa Idade Média


Outrora, a rigorosa disciplina de enfermagem não era praticada por profissionais de saúde, mas sim por ordens religiosas ou entidades que aliavam o amor ao trabalho, dom de Deus ao culto de outras virtudes.
Podemos começar a falar dos frades beneditinos, seguidores de S. Bento, praticavam uma cultura humanística, contribuindo para dar continuidade entre o mundo antigo e o mundo moderno, ou seja, guardavam e copiavam os manuscritos raros que iriam revelar-se à luz do período do renascimento, desta maneira os frades beneditinos eram instruídos por obras literárias clássicas.
Era nos conventos que se mantinha o grau de cultura, apreciável numa época de feudalismo arrogante, onde por muito tempo existiu o estudo da medicina, graças às obras clássicas que guardavam. Assim, os doentes aproximavam-se dos mosteiros, onde os eclesiásticos (frades ou monges) os aguardavam para um carinhoso acolhimento nas “enfermarias”, que se vieram mais tarde a transformar em hospitais.
Para além dos beneditinos, a humanidade terá de reconhecer os benefícios das ordens consideradas menores, como é o caso da modesta ordem de Francisco de Assis, a bem dos leprosos, que iniciou a primeira campanha para a melhoria das suas condições sociais, através de medidas preventivas de sanidade. Os devotos da ordem de Santo Espírito, de Montpellier, tratavam para além dos doentes, as crianças, os velhos e as parturientes. À também que mencionar Flandres e Florença por pequenos grupos prestadores de cuidados, como os beguinos de Flandres pelas praticas de enfermagem ou pelo tratamento de doentes, ou as oblatas de Florença, prestavam cuidados independentemente de quaisquer ordem monástica.
O desenvolvimento da enfermagem leiga durante os séculos XII e XIII, levada a cabo por estas ordens religiosas, teve o seu fim no ano 1212 por decisões episcopais, pelo critério da mais estrita economia.
Em Portugal à que mencionar a santificada D. Isabel de Aragão, enfermeira e fundadora de hospitais de Coimbra, Leiria e Santarém. Além dessas instituições, D. Isabel fez jus à sua generosidade, doando fundos aos Hospitais de Mínimos de Lisboa e Santarém e ao Hospital de Ronces Valhes no reino de Aragão.
Com o problema dos leprosos a aumentar de volume, atingindo todas as classes sociais, gera-se uma enorme preocupação surgindo assim novos hospitais para proporcionar conforto e guarida. Nesses novos hospitais dedicavam-se ao bem do próximo, rainhas, infantas, senhoras e todos os crentes da fé, que desejavam conseguir a beatificação ou a santidade, depois de renunciarem aos prazeres mundanos, assistindo assim aos pobres, aos doentes e aos peregrinos.
O cuidar regia-se pelas normas e valores cristãos, tal como o amor, dignidade, respeito pela pessoa física e espiritual. Pois nesta altura a religião estava na base de qualquer comportamento e atitudes. A manutenção ou recuperação da saúde era feita através de um equilíbrio espiritual e material.
            Numa época de pouco valor técnico, salienta-se o ponto de vista moral, como grande exemplo de bondade e desinteresse, surgindo assim o autêntico e puro altruísmo.
            Temos como prova do pouco valor técnico da época, as sangrias executados pelos barbeiros, pensando-se ser cura para a peste; o parto era executado com a parturiente sentada num banco auxiliada normalmente por mulheres sem conhecimentos para tal; a algaliação era muito rudimentar sem qualquer tipo de assepsia; e os doentes eram acamados uns com os outros sem qualquer tipo de separação.
            Deram-se também os primeiros passos para um sistema de assistência pública, levada a cabo por Luís IX de França, mas esta caiu por terra devido aos custos de manutenção e da malícia dos administradores, focados apenas no próprio proveito esquecendo os cuidados devidos aos doentes. A guerra dos Cem anos contribui para agravar a situação financeira de França, levando ao colapso do sistema.
Havia ainda outro tipo de cuidadores que eram as beguinas (raparigas arrancadas à má vida mas que não podiam ser monjas) que se ocupavam também dos cuidados dos enfermos.
A grande necessidade de pessoas cuidadores de saúde para cuidar dos doentes e dos feridos durante as cruzadas fez com que surgissem as unidades dos cavaleiros hospitalares que só atendiam os doentes durante os intervalos da guerra. Grandes quantidades dos homens fizeram-se “enfermeiros”. O ideal militar de ordem e disciplina manifestava-se, havia também mulheres que se organizavam nas unidades auxiliares de algumas ordens. Os cavaleiros hospitalares e os cavaleiros de Teutónico foram ordens de mulheres que estavam subordinadas aos cavaleiros Templários e cavaleiros da cruz vermelha.
Dois exemplos de ordens criadas foram os Ordens de “los caballeros de San Lazaro” e Ordem de “los caballeros hospitalarios Templários”, criadas durante as cruzadas, dos quais os monges que praticavam cuidados de saúde nas ordens se tornaram os mais famosos.
Também durante as cruzadas, milhares de peregrinos caminhavam para Jerusalém, as ordens cuidavam dos feridos da guerra e os peregrinos eram cuidados em mosteiros por monges e monjas, que se vieram a chamar, Hospital de São João de Jerusalém e Hospital de Santa Maria Madalena, sendo impostos nestes hospitais regras militares. Os monges e monjas que prestavam cuidados seguiam as regras de San Agustin, isto é prestar assistência e atenção de modo igual para todos, não fazendo distinção entre amigos e inimigos.
Assim, com este trabalho concluímos que os progressos dos cuidados de enfermagem esteve ligado, durante muito tempo, a ordens religiosas ou entidades preocupadas com o bem-estar do próximo. Numa época marcada pelos conflitos de guerra e pelo pelejar da espada entre nações e religiões.
Descobrimos também que os factores que propulsionaram as intervenções do enfermeiro na prestação de cuidados, foram as guerras, com os seus inúmeros feridos e as doenças infecciosas da época (lepra e peste negra).
É correcto concluir que o saber dos cuidados de saúde é ancestral, caminhando de geração em geração, acumulando conhecimento ao longo da sua existência.


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