segunda-feira, 10 de junho de 2013

XII Congresso Brasileiro e IX Congresso Latino Americano de Terapia Ocupacional

Por conviver com condições crônicas de saúde, os idosos utilizam frequentemente os serviços de saúde e são consumidores de grande número de medicamentos, que quando mal utilizados podem desencadear complicações sérias para a saúde e aumento dos custos individuais e governamentais. Como o idoso é o indivíduo mais medicalizado de todo o ciclo vital, o gerenciamento da atividade de administração de medicamentos com autonomia é importante para a manutenção da capacidade funcional. Objetivos: Descrever as estratégias utilizadas por idosos para a organização dos medicamentos e o conhecimento a respeito da atividade instrumental de vida diária administração de medicamentos. Materiais e métodos: trata-se de um estudo prospectivo, exploratório, descritivo e transversal. A coleta de dados foi feita por meio do Mini Exame do Estado Mental (MEEM). Escala de Lawton e Brody-IADL; MedTake Test Scoring Sheet modificado (formulário das pílulas) e entrevista estruturada com perguntas sobre as estratégias utilizadas para a organização de medicamentos. Casuística: A amostra de conveniência incluiu 82 sujeitos com doenças crônicas e com status cognitivo preservado, de 60 a 83 anos, ambos os sexos, variada classe socioeconômica e com 1 a 7 anos de escolaridade. A análise de dados utilizou a análise de conteúdo a partir da formação de categorias associada à estatística descritiva. Resultados e Discussão: Quanto às doenças prevalentes na amostra, estão relacionadas aos aparelhos circulatório e osteomuscular e do tecido conjuntivo. Quanto ao conhecimento sobre o uso dos medicamentos, 86,6% conhece os nomes dos remédios, 96,3% conhece a forma de ingestão, 90,25% conhece a indicação, 70% não conhece o preço dos medicamentos. Quanto às estratégias para a organização de medicamentos: os idosos consideram que o hábito de tomar os remédios nos mesmos horários auxilia na lembrança e deixá-los no mesmo local facilita na visualização destes. Percebe-se que a cozinha é o local da casa mais utilizado, e isto pode estar relacionado com a facilidade para a ingestão dos medicamentos. O fato de guardar os remédios de uso esporádico separados dos de uso contínuo é uma estratégia que diminui o número comprimidos na caixa e evita confusão e erros. A maioria dos idosos considera seus métodos de organização de medicamentos eficientes. Conclusão: O conhecimento sobre a atividade de administração de medicamentos do idoso pode auxiliar o terapeuta ocupacional na orientação adequada desta AIVD e conhecer as estratégias de organização de medicamentos permite que o TO auxilie o idoso e o cuidador na organização da rotina diária orientando, desenvolvendo estratégias de organização utilizando caixas organizadoras e manuais como o Visual Med Guide para melhorar a informação em saúde e diminuir os erros na administração.

UM ESTUDO SOBRE AS ESTRATÉGIAS QUE IDOSOS COM DOENÇAS CRÔNICAS UTILIZAM PARA REALIZAREM A AUTOMEDICAÇÃO E A INTERVENÇÃO DA TERAPIA OCUPACIONAL
Vanessa Spera de Miguel (HCRP-USP - Hospital das Clínicas de Ribeirão Preto USP) ; Frank Roger Defanti E Souza (HCRP-USP - Hospital das Clínicas de Ribeirão Preto USP) ; Carla Silva Santana (HCRP-USP - Hospital das Clínicas de Ribeirão Preto USP)

quinta-feira, 6 de junho de 2013

Necessidades Humanas Fundamentais de Handerson

1 – Respirar normalmente:
Nesta primeira necessidade, a dimensão biofisiológica manifesta-se na manutenção das características essenciais (como a frequência, ritmo, amplitude, etc.). A dimensão psicológica manifesta-se através da ansiedade e do stress enquanto que a dimensão cultural manifesta-se através da disciplina pessoal da respiração e a dimensão sociológica é por exemplo o ambiente onde o indivíduo vive, poluição, tabagismo.
 A forma de satisfazer esta necessidade é individual e pessoal. Esta necessidade difere de adultos para recém-nascidos, tal como de um atleta para uma pessoa mais sedentária. A sua componente bio-fisiológica manifesta-se na respiração celular e pulmonar, tal como na relação existente entre o aparelho e circulatório, muscular, nervoso e outros. Existe também uma componente psico-cultural, como por exemplo as emoções vividas, o medo, a raiva, a cólera, etc.

2- Comer e beber adequadamente:
A dimensão biofisiológica desta necessidade revela-se, por exemplo, no movimento das mãos em direcção à boca, mastigação, deglutição e digestão dos alimentos. Esta necessidade é também influenciada por uma dimensão psicológica que se manifesta por exemplo na ansiedade, anorexia, polifagia de origem nervosa. A sua dimensão sociológica revela-se no tipo de alimentação de acordo com o meio em que o indivíduo se encontra, enquanto que a dimensão cultural depende da raça, da religião, da nacionalidade, por exemplo o horário das refeições e o tipo de alimento, da cultura em que cada um está inserido.
Esta necessidade está também ligada a outras necessidades, como a de comunicar, eliminar, sentir-se útil, e varia consoante a maturidade de cada ser. Assim a capacidade que o indivíduo tem para ser independente quanto à sua alimentação e hidratação depende de vários factores.

3- Eliminar:
Esta necessidade inclui a eliminação renal, intestinal, respiratória e cutânea.
        Na dimensão biofisiológica manifesta-se a capacidade de eliminação urinária, intestinal, etc. A dimensão psicológica é por exemplo a ansiedade, o stress, repulsão. A dimensão sociológica manifesta-se na organização e controle sanitário, e na salubridade dos locais públicos, enquanto que a dimensão cultural desta necessidade revela-se no valor que se atribui à higiene em determinadas culturas.
Esta necessidade varia consoante a idade e saúde do indivíduo.

4- Movimentar-se, conservar uma postura correcta:
A independência na satisfação desta necessidade difere da criança para o adulto, de uma paraplégico para um atleta.
A dimensão biofisiológica manifesta-se através dos sistemas muscular, esquelético, cardiovascular e nervoso, que influenciam a capacidade do indivíduo em movimentar-se e em manter uma postura correcta. A dimensão psicológica revela-se no sedentarismo, hábitos pessoais de comportamento enquanto que a dimensão sociológica emerge na organização dos desportos e dos locais de exercícios. A dimensão cultural desta necessidade manifesta-se no valor que se dá aos desportos e ao exercício, numa determinada família e cultura.

 5- Vestir-se e despir-se:
A dimensão biofisiológica desta necessidade manifesta-se na capacidade do indivíduo ao nível neuro-muscular. A dimensão psicológica revela-se no estado de consciência, importância que se atribui à roupa e à aparência pessoal, vergonha,  pudor, enquanto  que na dimensão  sociológica manifestam-se as modas, as normas sociais e o ambiente, nomeadamente o clima, entre outros.
Assim na dimensão cultural emergem os limites impostos no modo de vestir pela religião ou cultura, nomeadamente nas mulheres.
Muitas das vezes cabe à enfermeira vestir e despir o doente aquando a prestação de cuidados, sendo necessário atender ao pudor determinado pelo grupo sócio-cultural, pela idade e pelo sexo ao qual o indivíduo pertence. O desrespeito do pudor de um indivíduo leva à não satisfação desta necessidade.

6- Dormir e repousar:
O funcionamento de vários subsistemas influencia a qualidade do sono e do repouso físico e mental.
A privação do sono provoca perturbações físicas e psíquicas.
Os aspectos da dimensão bio-fisiológica do sono e do repouso, variam de acordo com factores como a saúde do indivíduo ou a sua idade.
A dimensão psicológica desponta na ansiedade, no stress, nos hábitos pessoais de vigília e sono, assim como a dimensão sociológica desta necessidade revela-se no horário de se deitar e levantar em função do trabalho. A dimensão cultural emerge no valor que se dá ao trabalho e ao descanso em cada altura.
Esta necessidade pode também divergir entre épocas, por exemplo, pode variar entre um período de maior stress para o indivíduo e um período mais calmo da sua vida.
O funcionamento de vários subsistemas (como por exemplo o cardio-respiratório, gastrointestinal, neuro-muscular, entre outros) influencia a qualidade do sono e do repouso físico e mental. Assim é por vezes necessário recorrer à terapia ou a técnicas de relaxamento que facilitem o sono.

7- Manter a temperatura corporal nos limites normais:
A sua dimensão biofisiológica manifesta-se por exemplo na manutenção da temperatura corporal, e esta manutenção é influenciada por factores individuais como a idade, a sua tolerância às mudanças da temperatura ambiente, a sua hidratação e nutrição, o exame físico que lhe pode estar a ser realizado e o próprio funcionamento do hipotálamo.
Assim, estes pontos constituem a interferência da dimensão bio-fisiológica na satisfação desta necessidade.
A dimensão psicológica revela-se na elevação térmica devido ao nervosismo ou ao stress, enquanto  que a sua  dimensão sociológica manifesta-se, por exemplo, no ambiente (clima / conforto da casa). A dimensão cultural desta necessidade emerge no combater o frio e o calor usando determinada roupa.  

8- Estar limpo, cuidado e proteger os tegumentos:
Nesta necessidade, as necessidades de higiene diferem sempre que existem alterações na saúde do indivíduo.
A dimensão biofisiológica desta necessidade manifesta-se na integridade dos tegumentos. A sua dimensão psicológica revela-se no estado de consciência do indivíduo e na diafurese devido à tensão. A sua dimensão sociológica manifesta-se na salubridade do modo de vida e do trabalho, enquanto que a sua dimensão cultural emerge no significado da higiene e da limpeza no seio da família e da cultura.
Nesta necessidade as diferenças socioculturais existentes entre determinados grupos, influenciam também os hábitos de higiene de cada indivíduo, assim como a manutenção do seu corpo.

9- Evitar os perigos ambientais e evitar ferir os outros:
Os perigos evidenciados nesta necessidade podem despontar tanto do ambiente interno como do externo.
A sua dimensão biofisiológica emerge nos limites sensoriais como a visão e a audição. Manifesta-se também no desequilíbrio, nas imunidades e inflamações. A dimensão psicológica desta necessidade revela-se nas limitações intelectuais e nas perturbações do pensamento, enquanto que a sua dimensão sociológica manifesta-se na regulamentação para prevenir perigos e preservar a saúde do trabalhador, bem como em medidas de segurança laboral, por exemplo o uso de máscara. A dimensão cultural desta necessidade revela-se na exposição aos perigos em consequência de certas ideologias.

10- Comunicar com os seus semelhantes:
 Os aspectos fisiológicos desta necessidade manifestam-se na comunicação verbal, que abarca a articulação das palavras, a fonação, os movimentos da mão, a expressão facial, entre outros.
A sua dimensão biofisiológica manifesta-se em todas as expressões verbais e não verbais, bem como na capacidade física de se relacionar com os outros. A dimensão psicológica desta necessidade revela-se na perturbação emotiva e na capacidade para expressar sentimentos, enquanto que a sua dimensão sociológica emerge na liberdade para exprimir os seus sentimentos, bem como no controlo social. A sua dimensão cultural manifesta-se na extroversão e introversão características de determinadas culturas.
Assim, o modo como certos grupos sociais exprimem as suas emoções, é influenciado pela aceitação tanto da forma como do conteúdo. Deste modo se um indivíduo não puder satisfazer sozinho esta necessidade, a enfermeira deve ajudá-lo a satisfazê-la.

11- Praticar a sua religião ou agir segundo as suas crenças e valores:
A sua dimensão bio-fisiológica revela-se na independência física do indivíduo, bem como na sua imobilidade, debilidade, enfermidade. A dimensão psicológica desta necessidade manifesta-se na ansiedade, que pode estar relacionada com a enfermidade do indivíduo. A sua dimensão sociológica manifesta-se por exemplo na degradação dos lugares de culto, enquanto que a sua dimensão cultural revela-se na pertença a uma determinada religião e aderência a uma certa filosofia.
Assim, a aderência a determinada ideologia por parte do indivíduo é condicionada pelo seu estado de saúde, podendo este afastar ou aproximar o indivíduo dessa ideologia, dependentemente dos casos.
A independência física do indivíduo pode ajudá-lo a satisfazer esta necessidade

12- Ocupar-se de forma a sentir-se útil:
Esta necessidade é uma necessidade que está presente em todas as épocas da vida de um indivíduo.
A sua dimensão biofisiológica manifesta-se na maior parte das actividades realizadas por este, que dependem das suas capacidades físicas. A sua dimensão psicológica manifesta-se no estado de consciência do indivíduo, bem como na depressão, confiança em sim mesmo e educação. A dimensão sociológica desta necessidade revela-se na disponibilidade dos meios educativos e culturais, enquanto que a sua dimensão cultural emerge no valor que se atribui à produtividade e ao trabalho no seio de determinada cultura.
A independência relativamente a esta necessidade varia de indivíduo para indivíduo, bem como as suas actividades.
Esta necessidade é caracterizada por factores como a idade do indivíduo, a sua profissão (lugar ocupado na estrutura familiar e social, valorização do sucesso profissional, ambição), a sua autonomia (tomada de decisões e assunção das consequências) e auto-estima (percepção do seu valor pessoal), a aceitação das suas acções, o domínio das regras sociais e os seus gostos e interesses.

13- Recrear-se:
 O divertimento e recreação são necessidades fundamentais a todos os indivíduos ao longo da sua vida.
A sua dimensão biofisiológica manifesta-se no estado de saúde do indivíduo, que influencia directamente a escolha da actividade recreativa, bem como na capacidade de movimentos. A dimensão psicológica desta necessidade revela-se no estado de consciência do indivíduo e na sua capacidade pessoal de se relacionar com os outros, enquanto que a dimensão sociológica revela-se nas organizações desportivas e culturais para as diferentes idades. A sua dimensão cultural manifesta-se em restrições que se impõem às mulheres em determinadas culturas.
Quando o indivíduo adoece esta necessidade toma uma importância especial, pois quando o indivíduo está debilitado todas as actividades devem ser planeadas tendo em conta a sua situação.
Esta necessidade é caracterizada por factores como a idade do indivíduo, os seus gostos e interesses, as suas actividades de distracção habituais, o tempo que despende em actividades recreativas, as suas influências culturais, as condições de acesso às actividades recreativas desejadas e a relação com a satisfação de outras NHF’s (capacidades físicas, tensões e emoções, …).

14- Aprender:
Todos os indivíduos procuram satisfazer a sua curiosidade e aumentar o seu conhecimento.
A dimensão biológica manifesta-se na inteligência, e a dimensão fisiológica manifesta-se na integridade dos sentidos.
A sua dimensão psicológica revela-se no estado de consciência, na capacidade intelectual e nas perturbações do pensamento (por exemplo com a memória, entre outros), enquanto que a dimensão sociológica manifesta-se disponibilidade dos serviços de educação e no grau de evolução do agregado familiar. A dimensão cultural revela-se no valor que se dá à educação e à informação sobre a saúde e enfermidade, numa certa cultura.
A prevenção dos problemas de saúde suscita necessidades de aprendizagem específicas. Esta necessidade está particularmente ligada à necessidade de ser útil e de recreação, mas põe ser condição essencial para o restabelecimento da independência na satisfação de todas as necessidades.
Esta necessidade é caracterizada por factores como a idade do indivíduo, as suas capacidades psico-cognitivas, o seu nível de motivação (receptividade, expressão de interesse em aprender), o ambiente que o rodeia, a cultura a que pertence, a interacção desta NHF com várias outras e a sua capacidade de adaptação (saúde, doença, eventos – transições).



Assim podemos dizer que para Virgínia Henderson todas as necessidades se encontram interrelacionadas, sendo a satisfação de qualquer uma destas necessidades diferente de indivíduo para indivíduo, variando com os factores biofisiológicos, psicológicos, sociais e culturais e com a sua percepção própria de “correcto” ou de “normal”.