De acordo com o relatório Aventura Social
(2015), cerca de 45% dos jovens portugueses refere que, quando tiveram relações
sexuais pela primeira vez, queriam que tivesse acontecido naquela altura.
Considerando que iniciam a atividade sexual por volta dos 14 anos e que foi
reportada uma diminuição do uso de preservativo e um aumento das relações
sexuais associadas ao consumo de álcool ou drogas, nos últimos 10 anos, é cada
vez mais emergente a necessidade de intervir junto desta comunidade, a nível da
prevenção de comportamentos de risco.
A tecnologia, cada vez mais presente nas
tarefas diárias, torna-se indispensável na vida dos adolescentes, que adotaram
equipamentos eletrónicos como parte integrante da sua vida social. O portal da juventude
afirma que as Tecnologias da informação
e comunicação (TIC), são formas de expressão na sociedade atual,
modernizada. Entende-se por TIC meios de tratamento de informação e auxiliares
na comunicação,
Apesar do seu potencial, no
desenvolvimento da sociedade e cultura, sabe-se muito pouco sobre os seus usos em
ambientes informais.
Atualmente,
a aprendizagem não está circunscrita à escola. Esta ocorre em locais
pedagógicos como bibliotecas, filmes, jornais, revistas, anúncios e videojogos.
A vivência em diferentes ambientes sociais, acesso a diferentes fontes de
informação e postura perante os pais, confirmam que o conceito adolescência mudou.
Hoje em dia os adolescentes trocam, negociam e compartilham informações.
Vergonha ou medo pelo comprometimento da
sua confidencialidade, leva a que muitos jovens não esclareçam dúvidas com pais
ou professores, procurando informação online
ou junto dos pares. É sabido que atribuem grande importância aos meios de
comunicação social, dando maior ênfase às mensagens instantâneas (p.ex. Skype) e SMS. Este tipo de contacto tem sido usado entre adolescentes e
profissionais de saúde como veículo à exposição e esclarecimento de dúvidas, verificando-se
o seu uso, maioritariamente, na necessidade urgente de informação.
Um estudo realizado por Antunes (2012)
revelou que a fonte de informação eleita para esclarecimento de dúvidas sobre
sexualidade é a internet (61%), seguindo-se o esclarecimento junto dos pares e,
por último, junto dos pais.
Os princípios da informação online para jovens têm vindo a ser
estudados pela European Youth Information and Counselling Agency (ERYICA), que
ajuda a encontrar a informação certa e a tomar decisões informadas, tirando o
máximo partido dos benefícios da Internet. Além de plataformas online de partilha de experiências,
existe um espaço onde, via Skype,
tiram dúvidas com profissionais qualificados.
As TIC surgiram como meio para a criação
de um sistema de saúde fiável e confiável, com a informação de qualidade que
vem promover a saúde e diminuir a incidência de complicações decorrentes de
comportamentos de risco, nesta comunidade jovem.
Ainda durante o meu percurso académico,
promovi sessões de educação para a saúde, em escolas secundárias, abordando
temáticas envolvendo a sexualidade saudável. O que pude constatar foi que, ao
indicar alguns endereços eletrónicos de fontes fidedignas sobre a temática,
estes eram efetivamente consultados, e na sessão seguinte traziam questões e
comentários sobre o que leram. Pude perceber que, por vezes, a nossa
intervenção mais tecnológica pode partir de pequenos aspetos como este, criando
plataformas online de esclarecimento
de dúvidas e indicando sites com
informação útil, para consulta. Aqui despertou o meu interesse pelo tema e foi
quando decidi, efetivamente, apostar na pesquisa bibliográfica e na abordagem
mais modernista nas minhas sessões de educação para a saúde.
Dessa pesquisa emergiram aspetos muito
interessantes de projetos que estão a ser implementados em Portugal.
A APF lançou um jogo que aborda, de
forma lúdica e interativa, temáticas como a sexualidade e as competências
parentais.
Foi concebido no âmbito do Projeto #ON_Sex Direitos Sexuais e Jovens
Vulneráveis, pretendendo aumentar conhecimentos, desenvolver competências e promover
um estilo de vida saudável.
No estágio final da licenciatura,
alterei algumas das normas do gabinete de saúde escolar onde intervim,
nomeadamente no atendimento. Ao invés de o enfermeiro estar no gabinete da
escola à espera de ser abordado/procurado pelos alunos, propus um sistema em
que esse atendimento fosse com recurso às TIC. As alterações foram divulgadas
na escola e no site da mesma, com
indicação do endereço Skype que
deveria ser utilizado para entrar em contacto com a equipa de enfermagem. Foi
pedido à chefia um telemóvel de serviço, usado exclusivamente em contexto de
saúde escolar, para esclarecimento de dúvidas via SMS ou chamada, deixando a decisão ao critério do adolescente.
Dessa forma, o horário estipulado para
atendimento deixou de ser presencial. A enfermeira, a partir da UCC, passou a
atender qualquer chamada/videochamada via Skype,
durante esse horário. O telemóvel de serviço começou por funcionar apenas nos
dias úteis da semana. No entanto, com o decorrer do projeto, verificou-se a
necessidade de estender este horário para o fim-de-semana, devido à grande
afluência de tentativas de contacto nesse período.
Inúmeros são os autores que poderia
citar, que concluíram que as sessões de educação para a saúde, demonstraram
melhores resultados quando apresentadas com recurso a TIC e jogos interativos,
devido ao caráter lúdico conferido à sessão, em detrimento da convencional
apresentação de slides. Os jovens
passaram a adotar comportamentos que não punha em risco a sua vida e houve
diminuição da incidência de gravidezes na adolescência e IST. O uso da internet
traz grande potencial à saúde pública, podendo ser usado para educação, recolha
de dados e intervenção junto dos grupos de risco.
Está
nas mãos dos profissionais de saúde a competência e ferramentas que permitam
acompanhar as mudanças e adaptar as intervenções, para que as TIC sejam
integradas com fins pedagógicos e como meio de promoção de uma vivência e
desenvolvimento saudável dos adolescentes.